Quando o jogo vira fuga: uma leitura psicanalítica sobre o vício em apostas
- mariana ozório
- há 1 dia
- 2 min de leitura

Quando falamos sobre vício em jogo, muitas pessoas pensam apenas em “falta de controle”, “impulsividade” ou “excesso”. Mas, pela Psicanálise, o jogo não é só uma escolha racional que saiu do eixo: ele costuma ser um sintoma. Um modo de expressar conflitos internos, de lidar com angústias profundas e, muitas vezes, uma tentativa de encontrar no acaso algo que falta na vida emocional.
O que o jogo tenta resolver?
Do ponto de vista psicanalítico, ninguém se vicia "só porque gosta". O jogo aparece como uma espécie de solução imediata para algo que dói, falta ou ameaça internamente.
Algumas funções psíquicas comuns do jogo:
Anestesia da angústia: o risco e a adrenalina abafam um mal-estar que já existia.
Sensação de controle: apostar dá a ilusão de que é possível controlar o que é incerto — a própria vida.
Repetição de uma cena interna: ganhar e perder reencenam relações antigas com desejo, punição, falta, merecimento.
Busca de reconhecimento: vencer pode funcionar como uma fantasia de validação pessoal, um “agora vai”, “dessa vez eu consigo”.
Fuga de sentimentos difíceis: solidão, fracasso, vazio, culpa, frustração.
Por que o vício insiste, mesmo quando a pessoa sabe que faz mal?
A compulsão ao jogo funciona como um circuito fechado: quanto mais se perde, mais se tenta recuperar. Quanto mais se tenta recuperar, mais a pessoa se afasta da realidade psíquica que tenta evitar.
O sujeito volta, inconscientemente, ao mesmo lugar porque está preso a um conflito interno que ainda não encontrou outra via de elaboração.
É como se o jogo dissesse: “Aqui você não precisa sentir. Só jogar.” Mas a conta emocional nunca deixa de chegar.

Efeito contemporâneo: o jogo como promessa de vida melhor
No contexto atual, aplicativos de aposta e jogos online transformaram o ato de jogar em algo disponível 24h. Com o marketing agressivo e a promessa de ganho rápido, o jogo se veste de “solução financeira”, embora tenha raízes emocionais profundas.
A Psicanálise não moraliza nem culpa. Ela pergunta: “O que esse sujeito busca no jogo que não consegue encontrar em si?”
O papel da terapia psicanalítica
Na clínica, trabalhar o vício em jogo não é apenas interromper a prática — é compreender o lugar psíquico que o jogo ocupa.
A psicoterapia pode ajudar a pessoa a:
identificar o que o jogo tenta encobrir,
reconhecer padrões inconscientes,
elaborar angústias que disparam o impulso,
reconstruir o laço com a realidade,
fortalecer o eu contra a compulsão,
criar novas formas de lidar com dor, frustração e desejo.
O objetivo não é “proibir”, mas construir outras possibilidades de existir, onde o jogo não precise mais funcionar como saída.
Vício em jogo não é fraqueza — é pedido de ajuda
É importante reforçar: vício não significa falta de caráter. Significa sofrimento psíquico, conflito interno e um modo doloroso de tentar sobreviver emocionalmente.
Buscar terapia é um passo fundamental para romper o circuito da repetição e construir outro caminho — mais firme, mais consciente e mais possível.
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